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alvas e mimosas pernas. Por causa da inten­sa calma descera o corpinho do vestido, e assim sem xale e em mangas de camisa quase que se lhe viam nus os seios, que arfavam puros e castos como os de Raquel, quando ia dar de beber ao rebanho na cisterna, onde encontrou Jacó.

Seria impudicícia um tal desalinho em outro lugar, e em outra qualquer criatura; mas cobria-a o véu da inocência, e o recato da solidão. De quando em quando erguia a cabeça e sa­cudia para trás dos ombros as longas e bastas madeixas, que importunas lhe caíam pelas faces a tapar-lhe os olhos e estor­var-lhe o serviço em que se ocupava, e então deixava ver um lindíssimo oval ornado pela mais graciosa boca e os mais magníficos olhos que se podem imaginar. A todos esses encan­tos, dava esplêndido realce o vivo rubor, com que o mormaço de um sol ardente lhe afogueava as faces.

Cairia por acaso do céu naquele bronco sítio à entrada do pobre rancho essa estátua de marfim, tão alva, tão delicada, digna de pousar sobre pedestal de alabastro, e de ser emoldurada entre sanefas de ouro e brocado? Ou acaso um anjo baixara à terra como nos tempos bíblicos a conviver e abrigar-se à sombra da grosseira cabana do homem primi­tivo?

Paulina era a filha do fazendeiro. Filha única e órfã de mãe, gostava de acompanhar seu pai em