suas obras com o fim de lhe dispor o espírito a ouvir o que ia dizer. O rapaz expandiu-se.
— Ainda bem que eu ouço de quando em quando alguma voz animadora, disse ele; não sabe o que tem sido a inveja a meu respeito. Mas que importa? Tenho confiança no futuro; o que me vinga é a posteridade.
— Tem razão, a posteridade é que vinga das maroteiras contemporâneas.
— Li há dias num papelucho, que eu era um alinhavador de ninharias. Percebi a intenção. Acusava-me de não meter ombros a obra de mais largo fôlego. Vou desmentir o papelucho: estou escrevendo um poema épico!
“Ai!” disse o Dr. Lemos consigo, adivinhando alguma leitura forçada do poema.
— Podia mostrar-lhe alguma coisa, continuou Luís Tinoco, mas prefiro que leia a obra quando estiver mais adiantada.
— Muito bem.
— Tem dez cantos, cerca de 10.000 versos. Mas quer saber a minha desgraça?
— Qual é?
— Estou apaixonado...
— Realmente, é uma desgraça na sua posição.
— Que tem a minha posição?
— Creio que não é excelente. Dizem-me que se tem descuidado um pouco das suas obrigações do foro, e que brevemente lhe vão tirar o emprego.