a lastimar-se, a maldizer da fortuna, sem adivinhar que daquele emprego devia nascer uma mudança nas suas aspirações. O Dr. Lemos não lhe falou durante cinco meses. Um dia encontraram-se na rua. Perguntou-lhe pelo poema.
— Está parado, respondeu Luís Tinoco.
— Deixa-o de mão?
— Conclui-lo-ei quando tiver tempo.
— E a folha?
— Deve saber que acabei com ela; não lha mando há muito tempo.
— É verdade, mas podia ser um esquecimento. Muito me conta! Então acabou o Caramanchão Literário?
— Deixei-o morrer no melhor período de vitalidade: tinha oitenta assinantes pagantes...
— Mas então abandona as letras?
— Não, mas... Adeus.
— Adeus.
Pareceu simples tudo aquilo; mas tendo-se ganho alguma coisa, que era empregá-lo, o Dr. Lemos deixou que o próprio poeta lhe fosse anunciar a causa do seu sono literário. Seria o namoro de Laura?
Esta Laura, preciso é que se diga, não era Laura, era simplesmente Inocência; o poeta chamava-lhe Laura nos seus versos, nome que lhe parecia mais doce, e efetivamente o era. Até que ponto existiu esse namoro, e em que proporções correspondeu a moça à chama