Vai o marquez, e diz:
—Senhor, vós nascestes tolo.
E o rei continúa ouvindo, pacientemente, de faca na mão!
Podia o marquez ter-se ficado por aqui, que já não era pouco nem mau, mas carregou na tecla, visto ter achado brando o teclado.
—Sois doente, e cheio de enfermidades, accrescentou.
E o rei, sempre de faca na mão, pediu mais.
Então o marquez queimou o seu ultimo cartucho:
—Nem sois para casado.
Era o mais que se podia dizer! Como havia de servir para rei um homem que não servia para marido?! Rua com elle: era a traducção.
E o rei, diz o author das Monstruosidades do tempo e da fortuna, concordou com o marquez de Cascaes!
N'esse mesmo dia, 23 de novembro de 1667, D. Affonso VI assignou um termo de desistencia em favor de seu irmão.
Eis-aqui a synthese de um reinado.
A faca do marquez de Cascaes ha de ficar eternamente na historia portugueza como symbolo de boa administração: corte-se tudo o que não presta.
Fizesse-se assim sempre, e em tudo, e as coisas iriam melhor...
Sabe a gente estes e outros factos, que testemunhas contemporaneas deixaram memorados; sem em-