Eis-aqui a narrativa do primoroso estylista francez:
«D. Miguel, este Tarquinio o Soberbo, expulso de Lisboa, continua agora em Roma a historia de Lucrecia e Collatino; com a differença de que procede insensatamente, e n'uma igreja! Nero violava as sacerdotizas no recinto do templo de Vesta; Nero deve ser em tudo o patrono de D. Miguel. Parece que o perfume d'um templo ou d'uma igreja é um aphrodisiaco no clima italiano; testemunhas Nero, o sobrinho de Paulo II e D. Miguel.
«Era a 20 de março, domingo da paixão, vide calendario: que paixão dominava D. Miguel? N'esse dia estava elle na tribuna, visinha do tumulo de Paulo II, perto do sarcophago onde dorme essa mulher divina que tanto inglez haveria desposado, se estatuas de marmore podessem desposar-se. D. Miguel, principe catholico, dava pouquissima attenção ao evangelho dominical, e devorava com o olhar madame Aldobrandini Borghese, joven huguenote que exhibia os seus encantos acirrantes aos olhos dos cantores effeminados da capella Sixtina. O papa Gregorio VII officiava sob o baldaquino de bronze, fronteiro ao tumulo de S. Pedro; os peregrinos beijavam o pé de Jupiter Stator, transformado em principe dos apostolos, segundo a metamorphose do raio em chaves; D. Miguel não via senão madame Aldobrandini.
«Ah! não conheceis esta mulher, cujo nome lêdes! Roma inteira se namorou d'ella! Figurai-vos