DUAS IMPERATRIZES
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o peccado original da parcialidade fanatica, da dedicação amavel, mas, em compensação, levantam o véo da vida intima das Tulherias, e põem em evidencia alguns factos interessantes do ménage imperial.

Madame Carette não é precisamente uma estylista. Nas Tulherias o seu cargo de leitora era apenas um pretexto. Não teve por isso occasião de cultivar estheticamente o espirito com os primores litterarios de que a França é tão opulenta. Mas escreve com a facilidade e elegancia que são proprias de toda a mulher franceza bem educada.

Sob o ponto de vista da contextura historica, o livro é ás vezes descosido, e outras vezes futil. Mas, descontado o que elle tem de parcial, de frivolo e de truncado, offerece ainda assim um pequeno filão, que se póde explorar com interesse.

Madame Carette, remontando-se a 1858, dá o seguinte retrato da imperatriz:

«Era de estatura mais do que média; podia dizer-se alta. As feições regulares, e a linha extremamente delicada do perfil tinha a perfeição de uma medalha antiga com alguma coisa de intraduzivel, um peregrino encanto pessoal, que fazia com que se não podesse comparar a outra mulher; a fronte, elevada, e rectilinea, escanteava-se apertada, as sobrancelhas, longas e delicadas, eram um pouco obliquas; as palpebras, muitas vezes descidas, seguiam a linha dos supercilios velando os olhos pouco distanciados, o que