Tudo isto contou Wyat ao rei, n'uma carta escripta da Torre de Londres, e o rei, depois de a lêr, mandou soltar o poeta e ficou estimando-o tanto, que em 1541 o enviou como embaixador á côrte de Carlos V, mas Wyat morreu dos incommodos d'esta viagem.
Os outros cumplices de Anna Boleyn não tiveram igual felicidade: o visconde de Rochford, Henry Norreys, William Brereton e Marcos Smeaton foram degolados. A alcoveta Margarida foi queimada.
Presa na Torre de Londres, Anna Boleyn negou os crimes de que a accusavam. Ao bispo de Cantorbery disse ella:
—Eu bem sei a causa de tudo isto. O rei anda namorado de Joanna Seymour, e achou este meio de se desfazer de mim.
A accusação e a defeza eram por igual verdadeiras.
De nada valeu á rainha encarcerada a carta que da Torre de Londres escrevêra ao rei, e que o rei leu sem commoção.
Sobre o cadafalso, Anna Boleyn pronunciou um discurso muito habil para não enganar Deus nem os homens.
—Não penseis, bom povo, que me peza morrer, nem que eu fizesse coisa que merecesse esta morte: tudo procede da minha grande ambição e do grande peccado que commetti fazendo com que o rei abandonasse a boa rainha Catharina por minha causa. Rogo a Deus que ella me perdôe. E para que todos o ouçaes, digo que sou injustamente accusada. A prin-