uma discreta sobriedade de rhetorica, pouco vulgar nos historiadores hespanhoes, ha grande copia de preciosas noticias, de interessantes pormenores, que a fazem estimabilissima.
Em Portugal Anna Boleyn ficou sendo, na tradição popular, sob a translitteração de Anna Bolena, o typo da mulher corrupta e corruptora, enredadeira e devassa, perturbadora e intrigante.
No que, porém, todos os historiadores estão de accordo é em attribuir a summaria decapitação de Anna Boleyn ao amor que o rei alimentava por Joanna Seymour, filha de sir João Seymour, dama formosissima, que fazia parte da casa da rainha Catharina.
No dia da execução de Anna Boleyn, Henrique VIII, para mostrar a alegria do seu coração, e porventura a «pureza» das suas intenções, vestiu-se de branco; e no dia seguinte desposou Joanna Seymour.
David Hume observa, para fazer elogio á consciencia de Henrique VIII, que este rei não queria conhecer outras ligações além das do casamento. A desculpa afigura-se pueril e inexacta, porque o rei viveu tres annos amancebado com Anna Boleyn, antes de se divorciar de Catharina de Aragão.
Fizeram-se grandes festas para solemnisar o casamento de Henrique VIII com Joanna Seymour, que, tendo sido dama de honor da rainha D. Catharina, se mostrava muito affeiçoada á princeza Maria, a qual o rei seu pai não tinha visto havia mais de tres annos.