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HISTORIAS DE REIS E PRINCIPES

De saudade tão longa, da romage
Devota, mas só vêl-o, e adeus eterno,
E para sempre adeus!... Crueis lhe vedam
Mais que esse adeus. Voltou á patria, e morre.

Na respectiva nota da primeira edição do Camões, Garrett dá como factos assentes o isolamento de Bernardim Ribeiro na serra de Cintra e a sua ida de peregrino aos Alpes. Na segunda edição, porém, revela duvidas a respeito dos derradeiros dias do poeta, dizendo que «eram a parte menos decifrada e decifravel do enigma de sua vida» e desculpando-se com ter seguido no texto do poema a tradição mais vulgar.

No Auto de Gil Vicente, representado com grande applauso no theatro da rua dos Condes, Bernardim Ribeiro inspira uma dupla paixão a Paula Vicente, filha de Gil Vicente, e á infanta D. Beatriz. A dedicação de Paula pela infanta vai até o ponto de sacrificar o seu proprio coração á paixão que a infanta nutre pelo trovador. Todo o entrecho d'esta peça inicial do moderno theatro portuguez é fornecido por um auto de Gil Vicente, de que a seu tempo nos occuparemos. O casamento da infanta realisa-se, e ella parte para Italia a bordo do galeão «Santa Catharina». Bernardim conseguiu ir a bordo dizer o ultimo adeus á infanta; mas el-rei D. Manuel chega pouco depois para se despedir da filha. Bernardim encontra-se n'uma situação desesperada, receiando comprometter a infanta e Paula Vicente. Prefere morrer a desacredital-as: precipita-se no Tejo.