Ainda explica a repugnancia da infanta em desembarcar por estar informada da figura despicienda do duque; mas para explicar a dureza com que Carlos de Saboya trata D. Beatriz, poucos dias depois de casada, sendo certo que empregára grandes esforços para obter a sua mão, recorre Alexandre Herculano á conjectura de que «a noticia dos amores da infanta com um cavalleiro portuguez teria chegado aos ouvidos do senhor Vallaison (Claudio) que revelaria a seu amo, depois das nupcias, o terrivel segredo que levára de Portugal, e porventura o receio de que entre os que na viagem a acompanharam existisse o seu rival, e de que alguma das damas o favorecesse.»
O quadro da desamoravel lua de mel, que a infanta D. Beatriz, segundo o author do manuscripto, tivera em Saboya, não obstante a tradicional formosura da infanta, contrastaria asperamente com as alegrias com que os esponsaes foram celebrados na côrte de Portugal, onde Gil Vicente fez representar a tragicomedia das Côrtes de Jupiter, um dos autos que, a nosso vêr, melhor caracterisam a funcção truanesca que Gil Vicente desempenhava no paço, pelas allusões pessoaes a personagens importantes que elle irrisoriamente converte em peixes,—baleia, raia do alto, çafio, etc.
Veremos porém até que ponto, graças a um auxilio poderoso, lograremos esmiuçar a verdade.