A viscondessa estava só; o marido e a filha tinham ido ao buffet. Era a viscondessa uma senhora idosa, de traços empastados, sem relevo algum, de ventre proeminente, com um pince-nez de ouro trepado sobre o pequeno nariz e sempre a agitar o cordão de ouro que prendiam grande leque rococó.
Quando entramos, estava sentada, com as mãos unidas sobre o ventre, tendo o fatal leque entre elas, o corpo inclinado para trás e a cabeça a repousar sobre o espaldar da cadeira. Mal desmanchou a posição em que estava, respondeu maternalmente aos cumprimentos, e interrogou o meu amigo sobre a família.
— Não desceram de Petrópolis, este ano?
— Meu pai não tem querido... Há tanta bexiga...
— Que medo tolo! Não acha doutor? dirigindo-se a mim.
Respondi:
— Penso assim também, viscondessa.
Ela ajuntou então:
— Olhe, doutor... como é a sua graça?
— Bastos, Frederico.
— Olhe, doutor Frederico; lá em casa, havia uma rapariga... uma negra... boa rapariga...
E, por aí, desandou a contar a história vulgar de uma pessoa que trata de outra atacada de moléstia contagiosa e não apanha doença, enquanto a que foge, vem a morrer dela.
Depois da sua narração, houve um curto silêncio; ela, porém, o quebrou:
— Que tal, o tenor?
— E bom, disse o meu amigo. Não é de primeira ordem, mas se o pode ouvir...
— Ah! O Tamagno! suspirou a viscondessa.
— O câmbio está mau, refleti; os empresários não podem trazer notabilidades.
— Nem tanto, doutor! Quando estive na Europa, pagava por um camarote quase a mesma cousa que aqui... Era outra cousa! Que