respeitável livro que não fosse tomado de uma grande emoção.
— Veja só meu filho, como os homens são maus! Lavoisier publicou esta maravilhosa obra no início da Revolução, a qual ele sinceramente aplaudiu... Ela o mandou para o cadafalso — sabe você por quê?
— Não, papai.
— Porque Lavoisier tinha sido uma espécie de coletor ou coisa parecida no tempo do rei. Ele o foi, meu filho, para ter dinheiro com que custeasse as suas experiências. Veja você como são as coisas e como é preciso ser mais do que homem para bem servir aos homens...
Além desta gema que era a sua menina dos olhos, o Conselheiro Carregal tinha também o Proust, Novo sistema de filosofia química; o Priestley, Expériences sur les différentes espèces d’air; as obras de Guyton de Morveau; o Traité de Berzelius, tradução de Hoefer e Esslinger; a Statique chimique do grande Berthollet; a Química orgânica de Liebig, tradução de Gerhardt — todos livros antigos e sólidos, sendo dentre eles o mais moderno as Lições de filosofia química, de Wurtz, que são de 1864; mas, o estado do livro dava a entender que nunca tinham sido consultadas. Havia mesmo algumas obras de alquimia, edições dos primeiros tempos da tipografia, enormes, que exigem ser lidas em altas escrivaninhas, o leitor de pé, com um burel de monge ou nigromante; e, entre os desta natureza, lá estava um exemplar do — Le livre des figures hiéroglyphiques que a tradição atribui ao alquimista francês Nicolas Flamel.
Sobravam, porém, além destes, muitos outros livros de diferente natureza, mas também preciosos e estimáveis: um exemplar da Geometria de Euclides, em latim, impresso em Upsal, na Suécia, nos fins do século xvi; os Principia de Newton, não a primeira edição, mas uma de Cambridge muito apreciada; e as edições princeps da Méchanique analytique, de Lagrange, e da Géométrie descriptive, de Monge.
Era uma biblioteca rica assim de obras de ciências físicas e matemáticas