um homem, não muito velho, orçando aí pelos quarenta e poucos, mas avelhantado, sujo mesmo, barba por fazer. Era mulato claro, de feições regulares. Logo que se apertaram as mãos, Florêncio disse ao outro:
- Você não foi ao Tesouro!
- Atrasei-me...
E gaguejou, sem encontrar desculpa.
O velho meu amigo não esperou que ele a encontrasse e foi dizendo:
- Você não toma juízo... Onde você está morando?
- No mesmo quarto, "seu" Florêncio.
- Por que não vai para casa descansar um pouco?
- "Seu" Florêncio, é longe... Aqui sempre faço os meus biscates...
- Bem. Tome lá, Ernesto.
E puxou uma nota de dez mil-réis e deu-lha.
Senti no olhar do Ernesto uma doida vontade de ir-se, logo que sentiu o dinheiro na algibeira.
Afinal deixamos o rapaz e reencetamos o caminho da rua do Ouvidor. Eram quase duas horas da tarde e o largo de São Francisco, se bem que decaído do antigo movimento, quando todas as linhas de bondes de São Cristóvão e Tijuca nele paravam, tinha alguma agitação.
Emparelhávamos com a estátua, quando o velho Florêncio me disse:
- Você conhece esse homem?
- Não.
- É filho do visconde de Castanhal.
- Como? O capitalista?
- Sim; o capitalista.
- Não se acredita.
- Vou contar a você como ele o é. Quando Castanhal chegou aqui era simplesmente José da Silva. Homem tenaz, abriu, onde hoje é a luxuosa rua Gonçalves Dias, antiga dos Latoeiros, uma casa para vender leite em copos, em garrafas e lacticínios. Não havia dessas casas na cidade e logo foi a dele se afreguesando. Silva atendia à freguesia na sala; e no interior, para encher as garrafas, lavar os