impedido de dizer, aqui, que o senhor tem muita imaginação, belas imagens e uma forma magnífica.
— Sou principiante ainda, por isso não me fica mal aceitar o elogio e agradecer a animação.
Fez uma pausa, tomou um pouco de vinho e continuou em tom conveniente:
— O senhor sabe perfeitamente que espécie de força me prende aos seus... Um sentimento acima de mim, uma solicitação, alguma coisa a mais que os senhores puseram na minha vida...
— Pois então, interrompeu cheio de comoção o doutor Maximiliano: à nossa!
Ergueu o copo e ambos tocaram os seus, reatando o parlamentar a conversa desta maneira:
— Deu aula hoje?
— Não. Desci para espairecer e “cavar”. É dura esta vida... “cavar”! Como é triste dizer-se isto! Mas que se há de fazer? Ganha-se uma miséria... Um professor com oitocentos mil-réis o que é? Tem-se a família, representação... uma miséria! Ainda agora, com tantas dificuldades, é que Cló deu em tomar banhos de leite...
— Que ideia! Onde aprendeu isso?
— Sei lá! Ela diz que tem não sei que propriedades, certas virtudes... O diabo é que tenho de pagar uma conta estupenda no leiteiro... São banhos de ouro, é que são! Jogo nos bichos... Hoje tinha tanta fé no “jacaré”...
O caixeiro passava e ele recomendou:
— Baldomero, outra cerveja. O doutor não toma mais um “madeira”?
— Vá lá. Ganhou, doutor?
— Qual! E não imagina que falta me fez!
— Se quer?...
— Por quem é, meu caro; deixe-se disso! Então há de ser assim todo o dia?
— Que tem!... Ora!... Nada de cerimônias; é como se recebesse de um filho...
— Nada disso... Nada disso...