ainda, para pôr no lugar das antigas preciosidades. Os outros plantadores, que se tinham limitado a colher e vender, iam vivendo das suas modestas plantações; ele, Hussein Ben-Ali Al-Balec, corria para a ruína certa.
Foi por ai que, novamente, lhe apareceu Miquéias Habacuc, seu tio, homem hábil e esperto nos negócios. Hussein ficou espantado, mas o tio lhe disse:
— Rebento da minha querida irmã, pelo Deus de Abraão, de Israel e de Jacó, não te amedrontes: vendi as jóias por um bom preço a um grego, com o que ganhei duas cousas: dinheiro e a glória de ter enganado um cão dessa espécie. Mas, pelo Eterno! Esta idéia de pagar-me o conselho em jóias falsas não é tua... Isto tem dedo de pessoa inteiramente da minha raça de Mardoc e Malaquias... Isto é de minha irmã! Não foi tua mãe quem...
— Foi. E que fizeste do dinheiro, tio amado da minha alma; socorro da minha vida?
— Emprestei-o aos turcos com bons juros e quando os cobrei, quase me esfolaram. Muito tem sofrido a raça de Israel; mas o que sofri deles, nem contar te posso — ó descendente do grande Al-Bâlec, companheiro de Musa — conquistador das Espanhas!
Acabava de dizer estas palavras, quando entra no aposento em que estavam Salisa, a feroz Judite, a eloqüente Débora — que, ao dar com o irmão, se põe em prantos, exclamando:
— Irmão do coração, sábio Miquéias! Tu que descendes como eu de Micaia, da tribo de Jeroboão, e de Azarela, que era da casa de Leedã, salva-me pelo nosso Deus de Abraão, de Israel e de Jacó — salva-me!
E a feroz Judite e eloqüente Débora chorou não a sua dor, nem a dos outros, mas o dinheiro que se sumia.
Contou, então, Hussein ao tio, como a ruína se aproximava; como a valorização das tâmaras, no começo dando tão bom resultado, viera a acabar, no fim, em desastre completo.
O velho Miquéias, filho de Uriel de Sepetai, coçou as barbas hirsutas; os seus olhinhos luziram naquele quadro de pêlos cerdosos;