ANECDOTA PECUNIARIA
Chama-se Falcão o meu homem. N'aquelle dia— quatorze de Abril de 1870— quem lhe entrasse em casa, ás dez horas da noite, vel-o-hia passear na sala, em mangas de camisa, calça preta e gravata branca, resmungando, gesticulando, suspirando, evidentemente afflicto. Ás vezes,
sentava-se; outras, encostava-se á janella, olhando para a praia, que era a da Gambôa. Mas, em qualquer logar ou attitude, demorava-se pouco tempo.
— Fiz mal, dizia elle, muito mal. Tão minha amiga que ella era! tão amorosa! Ia chorando, coitadinha! Fiz mal, muito mal... Ao menos, que seja feliz!
Se eu disser que este homem vendeu uma sobrinha, não me hão de crer; se descer a definir o preço, dez contos de réis, voltar-me-hão as costas com desprezo e indignação. Entretanto, basta ver este olhar felino, estes dois beiços, mestres de calculo, que,