familiar e publico era a mesma cousa em tal materia e naquelle tempo. «Quem rege a missa é mestre Romão,»--equivalia a esta outra forma de annuncio, annos depois: «Entra em scena o actor João Caetano»;--ou então: «O actor Martinho cantará uma de suas melhores arias». Era o tempero certo, o chamariz delicado e popular. Mestre Romão rege a festa! Quem não conhecia mestre Romão, com o seu ar circumspecto, olhos no chão, riso triste, e passo demorado? Tudo isso desapparecia á frente da orchestra; então a vida derramava-se por todo o corpo e todos os gestos do mestre; o olhar accendia-se, o riso illuminava-se: era outro. Não que a missa fosse delle; esta, por exemplo, que elle rege agora no Carmo é de José Mauricio; mas elle rege-a com o mesmo amor que empregaria, se a missa fosse sua.

Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas allumiado da luz ordinaria. Eil-o que desce do côro, apoiado na bengala; vae á sacristia beijar a mão aos padres e aceita um logar á mesa do jantar. Tudo isso indifferente e calado. Jantou, saiu, caminhou para a rua da Mãi dos Homens, onde reside, com um preto velho, pae José, que é a sua verdadeira mãe, e que neste momento conversa com uma visinha.