va. Nem a secretária abrira ainda. Abriu-a então, e, com elles, inventariou o conteudo de algumas gavetas. Cartas, papeis soltos, programmas de concertos, menus de grandes jantares, tudo alli estava de mistura e confusão. Entre outras cousas acharam alguns cadernos manuscriptos, numerados e datados.
—Um diario! disse Benjamim.
Com effeito, era um diario das impressões do finado, especie de memorias secretas, confidencias do homem a si mesmo. Grande foi a commoção dos amigos; lêl-o era ainda conversal-o. Tão recto caracter! tão discreto espirito! Benjamim começou a leitura; mas a voz embargou-se-lhe depressa, e João Braz continuou-a.
O interesse do escripto adormeceu a dor do obito. Era um livro digno do prelo. Muita observação politica e social, muita reflexão philosophica, anecdotas de homens publicos, do Feijó, do Vasconcellos, outras puramente galantes, nomes de senhoras, o da Leocadia, entre outros; um repertorio de factos e commentarios. Cada um admirava o talento do finado, as graças do estylo, o interesse da materia. Uns opinavam pela impressão typographica; Benjamim dizia que sim, com a condição de excluir alguma cousa, ou inconveniente ou demasiado particular.