Encontrar entre os livros de versos (tantos, Santo Deus!) que por ahi se publicam, um livro como este, de uma tão simples e ingenua sinceridade, é coisa que sorprende e encanta. Não ha nas estrofes do Horto o labor pertinaz de um artista, transformando as suas idéas, as suas torturas, as suas esperanças, os seus desenganos em pequeninas joias: certo, a poetisa Auta de Souza não poderia dizer como o Orfèvre de Heredia:
“Mieux qu’aucun maitre inscrit au livre de maitrise,
Qu’il ait nom Ruiz, Arphée, Ximenez Bécerril,
J’ai serti le rubis, la perle et le béryl,
Tordu l’anse d’un vase, et martelé sa frise...”
Aqui a alma vibra em liberdade, sem a preoccupação dos affeites da Forma, livre da complicada teia do artificio. Ingenuamente, commovida e meiga, essa alma de mulher vae traduzindo em versos os mundos de sensações, agora ardentes, agora tristes, que o espectaculo da vida lhe vae suggerindo. A’s vezes, é um aspecto da Natureza: