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HORTO

Mas... como posso eu levar sonhando
A vida inteira n’um anceio infindo,
Se choro mesmo quando estou cantando,
Se choro mesmo quando estou sorrindo!

Ouve, ó formosa e doce e immaculada,
Visão gentil de eterna phantasia:
Minh’alma é uma saudade desfolhada
De mãe querida sobre a cova fria.

Ah! minha Mãe! Pois tu não sabes, santa,
Que Ella partiu e me deixou no berço?
Desde esse dia a minha lyra canta
Toda a saudade que lhe inspira o verso!

Depois que Ella se foi a Magua veio
Encher-me o coração de luto e abrolhos.
Eu soffro tanto longe de seu seio,
Eu soffro tanto longe de seus olhos!

O’ minha Eugenia! Estrella abençoada
Que illuminas o horror deste deserto...
De teu affecto a chamma consagrada
Lança á minh’alma como um pallio aberto.

Quando beijares teus filhinhos pensa
O que seria d’elles sem teus beijos;
E então comprehenderás a dor immensa,
A amargura cruel destes harpejos!