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HORTO

Meu coração é um ramo
Onde teci o teu ninho;
Dorme nelle, gaturamo,
O’ sonho branco de arminho!

Dorme, dorme; de mansinho
Vou te embalando a cantar...
Esconde as azas no ninho,
Não quero ouvir-te chorar.

Fecha os olhos docemente
E vôa longe da terra,
Dorme o teu somno innocente,
O’ nivea pomba da serra!

Dorme, santinho, as estrellas
Virão cobrir-te com um véo;
Não chores se queres vel-as
Fazer de teu berço um céo.

Foge da noite aos abrolhos
Neste celeste abandono;
Eu guardo um sonho nos olhos
Para dourar o teu somno.

Olha, meu santo, Jesus,
Que tanto amava os meninos,
Vela sorrindo da Cruz
O somno dos pequeninos.