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HORTO
- III
Um dia destes, enferma,
Eu recordava, a chorar,
Um sonho que vi brilhar
Em minha vida tão erma.
E cheia de desconforto
Fui evocando o perfil,
Sereno, meigo e gentil,
De meu irmãosinho morto,
Quando ouvi, muito baixinho,
Um grito vago e dorido,
Como o saudoso gemido
De um’ave, pedindo o ninho...
Quem ousaria no mundo
Penetrar na soledade,
Onde gemia a saudade
Do meu coração no fundo?
Julguei sonhar... Mas, desperta
Estava, ainda, e sosinha!
Aquelle gemido vinha
Lá da gaiola deserta.