Se fosse possível, porém, que os homens piedosos me ouvissem, eu lhes diria que meu primeiro tentamen poético, assim como apresento, não é de nem uma sorte um livro filosófico nem dogmático: eu lhes pediria que não se assanhassem a ponto de alevantar-me cadafalsos, como o enfurecido De-Maistre, que lhes serve de norma: que, com quanto eu receba com toda a paciência própria de meu espírito o epíteto de — ímpio — que eles me dão, lembrem-se todavia de que Helvécio, segundo eles mesmos, foi muito ímpio, e foi um bom-homem, etc., etc., etc.
Este meu livrinho não é, como disse já, senão um acanhado ensaio. É uma pequenina messe, tal qual é possível com a idade ainda em flor. Os frutos da mocidade são sempre temporãos; mas há de se perdê-los, quando o sol tem obstinadamente esperdiçado tanto raio para amadurecê-los à força?
Transparece, portanto, aqui, um estudo rápido e passageiro, mais como uma ambição versátil, multicor, incerta, do que como um trabalho metódico, sereno, profundo, — apanágio da idade madura. Há mais desejos, que pensamentos: mais crepúsculo, que luz: mais dúvidas, que proposições: mais pressentimento, que fé. Há uma vocação ardente, indeterminada, insaciável, quase infinita, para uma imagem, que não se define ainda, — para um incógnito, que, qualquer que seja, deve ser grande. Há uma contemplação do imenso, — um desespero talvez.
Creio que o estado de solidão monástica, por espaço de três anos, me fez algum mal...
Assim, este livrinho tornou-se um labirinto, onde eu mesmo custo a achar o fio. O que eu sei dizer, é que foi uma colheita do que, segundo meu gosto, achei de belo em tudo. A religião do Cristo, — este pensamento verdadeiramente digno de Deus, — abastava-me de inspirações.
Não sei se as recolhi todas, mas sei que as copiei bem mal. Nem todos tudo podemos, segundo a bela expressão de Virgilio. Ao mesmo passo as outras religiões, mais ou menos teológicas, mais ou menos filosóficas, adereça,vão-se cada uma com seu belo, e desafiavam-me com ele.
Não me senti bastante forte para lhes resistir. Foi nesse período, quem sabe se de tentação? — que escrevi — A Religião do poeta, impressa no Noticiador Católico. Nessa espécie de bosquejo, que fiz então, das religiões, percebe-se bem o estado de meu espírito.
Julgo que, ao dizer isso, sou verdadeiro e franco.
Deixas-me! – pag. 157.
O jovem a quem é dedicada esta mesquinha composição, conta apenas dezessete a dezoito anos. Eu deposito sobre o talento deste moço as mais formosas esperanças. Nem uma de suas poesias viu ainda luz pública. Entretanto tem já em sua voluntária obscuridade produzido algumas que lhe merecerão o salve de poeta, logo que aparecerem.
Eu ardo por saudá-lo primeiro que todos. Ao menos, se nem um mérito tenho por mim, contentar-me-ei com o que resultar, para minha consciência, aclamando um gênio.