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to de madeira, constituiria um apparelho, a cuja elevação e equilibrio não se poderia pôr nenhuma das objecções que nos suscitou a opinião expendida pelo visconde de Villarinho de S. Romão.

O auctor da noticia era amigo de Bartholomeu Lourenço e, segundo informações suas, a escreveu. Não sendo porem versado na physica, o que da mesma descripção se deprehende, cahiu em erros e inexactidões, confundindo e alterando provavelmente o que ao auctor da machina ouvira. Assim, ignorando o principio de Archimedes, attribuiu á força magnetica do ar o sustentarem-se alguns corpos n'este fluido, e porque se destinasse a machina volante a grandes viajens e tivesse de resistir á violencia das perturbações atmosphericas, entenderia coisa indispensavel o ser composta de materia solida, como laminas de ferro ou cobre.

Esta mesma noticia nos indica os meios, de que Bartholomeu Lourenço de Gusmão intentava servir-se para elevar a machina volante, como se verá no capitulo seguinte, onde daremos tambem uma memoria biographica, escripta no a no de 1724 ou pouco depois, na qual se lê que pozera por obra, não logo o principal invento, mas uma amostra que era uma barcassa pequena do feitio de uma gamella coberta de lona, com umas luzes por baixo etc. o que de algum modo confirma a descripção inedita da machina e o ter errado o auctor em dizer que era feita de laminas metallicas. Isto mesmo se prova pelo apontamento accrescentado á copia da petição da bibliotheca da universidade[1] em que se diz que o padre Gusmão comprára vinte e quatro arrobas de arames surtidos e quantidade de papel, parecendo a quem tal escreveu que seria para algum papagaio. Servindo-se do fogo, como vamos demonstrar, Bartholomeu Lourenço para elevar a machina, a todos hoje se patentêa o fim a que era destinado o papel em suas experiencias.

  1. A pag. 20 d'este opusculo.