uma toalha o encetado painel apenas ouviu os passos da moça; mas o gesto não tinha já o terror do primeiro dia; era antes coquetice que outra coisa.

— Já trabalhando! exclamou ela.

— Já.

— Vou-me embora.

— Não, ainda não.

— É algum retrato?

— Não é retrato.

Camila aproximara-se da tela; pegou na ponta da toalha, em ação de a levantar. Silvestre não obstou o movimento; ela não insistiu. Ambos davam assim uma prova de confiança e docilidade apreciada reciprocamente.

— Só lhe peço uma coisa, disse Camila.

— Que é? Diga.

— Não falte à promessa que me fez.

Silvestre respondeu com um gesto de assentimento. Era o mais que podia fazer na ocasião, porque não tinha voz; todo ele era olhos para a beleza incomparável de Camila. Vinha a moça num desalinho intencional — um meio de o familiarizar com ela, e mais que nunca viu Silvestre que não era outra a sua Vênus, não podia ser outra. Camila baixou os olhos com um gesto de Diana.

O jovem artista abriu então as suas pastas de esboços e estudos; um por um mostrou-os todos à esposa de Luís Borges. Eram corretos? Camila não podia dizê-lo; achou-os, todavia, lindíssimos.

— Oh! se você me ensinasse a desenhar! exclamou ela.

— Eu? Sou apenas discípulo.

— Discípulo!

— Discípulo da natureza e de mim mesmo.

Camila refletiu um instante.

Pois bem, disse ela; não me ensine; não desejo roubar-lhe o tempo. Mas...

— Diga!

— Era capaz de fazer o meu retrato?

— Talvez.

Camila interpretou esta palavra como uma afirmação, e agradeceu-o com tão infantil alegria que fez sorrir Silvestre, não tanto de orgulho como de curiosidade.

— Mas não fale nada ao Luís — recomendou a moça.