tela. Nem já dava aos trabalhos que o advogado lhe cometia aquela atenção com que a princípio correspondera aos sentimentos dele. Luís Borges desistiu de o ocupar mais; compreendeu a causa da desatenção e dispensou-o de ir ao escritório. Assim os dias todos eram passados em casa, entre o painel e Camila.

Um dia, enfim, após algumas horas de trabalho, Silvestre desceu e foi ter com a mulher do seu protetor. Ela estremeceu ao ver-lhe as feições transtornadas. Interrogou-o e a resposta tranqüilizou-a. Nada acontecera que prejudicasse a obra.

— Tive uma vertigem, murmurou ele.

— Uma vertigem! Anda descansar um pouco.

Silvestre estava ainda pálido; sentou-se; a moça ficou diante dele alguns minutos.

— Quer saber uma coisa? perguntou Camila. Você trabalha muito. Não quero mais isso; agora há de fazer o que eu mandar.

Silvestre abanou a cabeça.

— Não é esse trabalho o que me faz mal, disse ele; é outro; é este. Dizendo isto o moço bateu com o dedo na testa. Camila, com as mãos arredou-lhe os cabelos, olhou para a testa silenciosamente, e pousou-lhe um beijo leve e úmido. Silvestre não corou, sentia a mesma impressão de conforto que lhe davam os beijos de sua mãe. Ergueu-se e subiram os dois. Na ocasião de descer, Silvestre, apesar de incomodado, cobrira instintivamente o painel.


(Continuar-se-ha.)
VICTOR DE PAULA.