JORNAL DAS FAMILIAS.
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as coisas não se passavam de outro modo. A diferença é que os cavaleiros lutavam com outras armas e outra solenidade, e a castelã era diferente de uma vulgar namoradeira. Mas só o quadro era outro; o fundo era o mesmo.

A castelã da Gamboa assistiu à luta dos dois pretendentes meio penalizada, meio lisonjeada e meio remordida. Viu ir pelos ares o chapéu branco de Anacleto, desfazer-se-lhe a cabeleira, desarranjar-se-lhe a gravata. Adriano, por sua parte, recebia algum pontapé avulso do adversário e pagava-lho em bons cachaqões. Rolaram os dois por terra, no meio da gente que se juntava e que não podia ou não ousava separá-los; um gritava, outro bufava; os vadios riam, a poeira cercava-os a todos, como uma espécie de nuvem misteriosa.

No fim de dez minutos, conseguiram os passantes separar os dois inimigos. Um e outro tinham sangue. Anacleto perdera um dente; Adriano recebera uma mordidela na face. Assim desfeitos, feridos, empoeirados, apanharam os chapéus e estiveram a ponto de travarem nova luta. Dois estranhos caridosos impediram a repetição e levaram-nos para casa.

Carlota não pudera ver o resto; retirara-se para dentro, acusando-se a si própria. Foi dali rezar a uma imagem de Nossa Senhora, pedindo-lhe a reconciliação dos dois e prometendo não atender a mais nenhum deles para os não irritar um contra o outro.

Ao mesmo tempo em que ela solicitava a reparação do mal que fizera, cada um deles jurava entre si matar o outro.

VII.

Aquele lance da Praia da Gamboa foi motivo das palestras do bairro durante alguns dias. A causa da luta foi logo conhecida; e, como é natural em tais casos, aos fatos reais vieram juntar-se muitas circunstâncias de pura imaginação. O principal é que os belos olhos de Carlota tinham tornado irreconciliáveis inimigos os dois primos. Haverá melhor anúncio do que este?

Bento Fagundes soube do caso e do motivo. Pesaroso, quis reconciliar os rapazes, falou-lhes com autoridade e com brandura; mas nem um nem outro modo, nem conselhos nem pedidos, tiveram que fazer com eles. Cada um dos dois meditava a morte do outro, e só recuavam diante dos meios e da polícia.