Dois meses depois chegaram à fala sobre a necessidade de obedecer ao desejo do morto, que devia ser sagrado, dizia Anacleto. Sacratíssimo, emendava Adriano.
Quando se completaram cinco meses depois da morte do boticário, Carlota e o marido entraram em uma loja de fazendas, a comprar não sei quantos côvados de chita de algodão. Não repararam na firma social pintada na porta, mas ainda reparando, podiam eles atinar quem seriam Fagundes & Monteiro? Fagundes e Monteiro, a firma toda, estavam na loja e voltaram-se para servir a freguesa. Carlota empalideceu, mas dominou-se. Pediu o que queria com voz trêmula, e os dois apressaram-se a servi-la não sei se comovidos, mas em todo o caso corteses.
— A senhora não acha melhor fazenda do que esta.
— Pode ser... É muito cara?
— Baratíssima, disse Fagundes: dois mil-réis...
— É caro!
— Podemos deixá-la por mil e oitocentos, acudiu Monteiro.
— Mil e seiscentos, propôs o marido de Carlota.
Os dois fizeram a careta do estilo e simularam uma hesitação, que não foi longa.
— Vá, disseram eles.
A fazenda foi medida e paga. Carlota, que não ousava encará-los, fez um leve gesto de cabeça e saiu com o marido.
Ficaram silenciosos os primos por alguns instantes. Um dobrava a fazenda, enquanto o outro fechava o dinheiro na caixa. Interiormente estavam radiantes: tinham ganho seiscentos réis em côvado!Esta página contém uma imagem. É necessário extraí-la e inserir o novo arquivo no lugar deste aviso.