— Meu pai, assim é preciso.
— Não é, minha filha.
— Afirmo-lhe que é.
— Tão generosamente pagas a quem foi tão cruel para contigo?
— Meu pai, disse Emília, cada um de nós foi condenado a ter neste negócio uma catástrofe. É a sua vez.
— Explica-te.
— Meu pai, disse Emília, fechando o rosto nas mãos, eu sou dele quer queira quer não.
Uma idéia pavorosa atravessou o espírito de Vicente. Mas tão impossível lhe pareceu, que, sem dar crédito à imaginação, perguntou a Emília o que queria dizer.
A resposta de Emília foi:
— Poupe-me à vergonha, meu pai.
Vicente compreendeu tudo.
O seu primeiro movimento foi repelir a filha.
Levantou-se desesperado.
Emília não disse uma palavra. No fundo do abismo da desgraça em que se via, não podia desconhecer que a indignação de Vicente era legítima e que devia respeitá-la.
Vicente fez mil imprecações de ódio, mil protestos de vingança.
Passada a primeira explosão, e quando, extenuado pela dor, Vicente caía em uma cadeira, Emília levantou-se e foi ajoelhar-se aos seus pés.
— Perdão, meu pai, exclamava ela entre lágrimas, perdão! Conheço todo o horror da minha situação e respeito a dor que meu pai acaba de sentir. Mas vejo que mereço perdão. Eu era fraca e amava. Ele era insinuante e parecia amar. Nada disto me lava do pecado; mas se a indignação de um pai pode encontrar atenuação no ato de uma filha, meu pai, eu ouso esperar isso.
Vicente repeliu Emília com a mão.
Emília insistiu, implorou, desfez-se em lágrimas, em súplicas, e em lamentos. Pediu pela alma da mãe que Vicente não juntasse à dor da perfídia do amante a dor da maldição paternal.
A voz do arrependimento e da contrição de Emília teve eco no espírito de Vicente. O velho pai, chorando também, voltou os olhos para a filha e estendeu-lhe os braços.
Na consciência de Vicente Emília estava perdoada.
Mas o mundo?
Os juízos do mundo são singulares e contraditórios. Quando uma pobre rapariga cai num erro, como Emília, o mundo fecha-lhe as portas e lavra