a quem todo conselho serve. Confiava no juízo de Magalhães e o parecer dele era razoável.
— Parece-te então que eu devo expor-me?
— Sem dúvida.
O advogado referiu depois todas as circunstâncias do seu encontro com a moça em questão. Pertencia a uma família com quem esteve em casa de terceiro; o pai era um excelente homem, que o convidou a freqüentar a casa, e a mãe uma excelente senhora, que ratificou o convite do marido. Oliveira não tinha ido lá depois disso, porque, segundo imaginava, a moça não correspondia à sua afeição.
— És um tolo, disse Magalhães quando o amigo acabou a narração. Vês a rapariga num baile, ficas gostando dela, e só porque ela não te caiu logo nos braços, desistes de lhe freqüentar a casa. Oliveira, tem juízo: vai à casa dela, e dir-me-ás daqui a pouco tempo se te não aproveita o conselho. Queres casar, não?
— Oh! podias pôr em dúvida?...
— Não; é uma pergunta. Não é casamento romântico?
— Que queres dizer com isso?
— Ela é rica?
Oliveira franziu a testa.
— Não te zangues, disse MagaLhães. Eu não sou nenhum espírito rasteiro; também, conheço as delicadezas do coração. Nada vale mais que um amor verdadeiro e desinteressado. Não se me há de censurar, porém, que eu procure ver o lado prático das coisas; um coração de ouro vale muito; mas um coração de ouro com ouro vale mais.
— Cecília é rica.
— Pois tanto melhor!
— Afianço-te, porém, que essa consideração...
— Não precisas afiançar nada; eu bem sei o que vales, disse Magalhães apertando as mãos de Oliveira. Anda, meu amigo, não te detenho; procura a tua felicidade.
Machado de Assis.