ferreiro.—­Conheceis vós a comborça? As varas a quizera eu: uma do alcaide no chumaço; outra do coitado nas costas della!” [1]

“É costume, ergo direita a pena:”—­notou um procurador, que gravemente contemplava aquelle espectaculo, e que até alli guardára silencio.

Estas injurias, que, como o fogo de um pelotão, se disparavam ao longo das extensas e fundas fileiras dos populares, iam ferir os ouvidos do conde de Barcellos, que, fingindo não lhes dar attenção, empallidecia e córava successivamente, e mordia os beiços de colera.

De quando em quando o vociferar affrontoso da gentalha era affogado no ruído de risadas descompostas, mais insolentes cem vezes que as injurias; porque no rir do vulgo ha o que quer que seja tão cruel e insultuoso, que faz dar em terra o maior coração e o anímo mais robusto.

Entre os parciaes de D. Leonor que vinham

  1. Segundo varios quadernos legaes do nosso direito consuctudinario e municipal, em certos casos applicava-se ás mulheres casadas a pena de que resa o discurso do ferreiro. O alcalde vinha a casa da criminosa punha no chão um travesseiro, pegava d’uma vara e começava a bater em cima delle, fazendo-lhe o compasso o marido da culpada nas costas desta: tal era o modo por que as mulheres estavam ás varas, pena que com menos apparato se applicava tambem aos homens por muitos e diversos crimes.