subitamente, e entregou o pergaminho a Diogo Lopes, dizendo-lhe ao mesmo tempo em voz baixa:
“Estamos perdidos!”
Diogo Lopes leu o conteúdo naquelle escripto fatal, e no mesmo tom respondeu ao infante:
“O caminho de salvação que nos resta é o de Santarem. Obediencia e circumspecção!”
O pergaminho passou rapidamente de mão em mão: os fidalgos, letrados, e cavalheiros fizeram um circulo no meio do alpendre: e, depois de o haverem lido, fitaram uns nos outros olhos desassocegados. Todos receiavam falar. O manhoso Pacheco foi o primeiro que se atreveu a isso, aproveitando habilmente a hesitação dos outros fidalgos e conselheiros.
“Vistes a ordem d’elrei. Como um dos mais velhos entre nós, direi meu parecer. Embora o risco seja grande achando-nos cercados de povo armado e furioso, o nosso dever é pôr a vida por obedecer a nosso senhor elrei.”
“Mas,”—atalhou o doutor Gil d’Ocem, que por mui letrado e prudente era ouvido como oraculo pelos cortezãos—“o caso é grave: o povo se nos vir retirar enviar-se-ha a nós: se lhes dizemos o motivo da nossa partida é capaz de desconcertos maiores que os já commettidos.”