sol, que, já muito inclinado para o occidente, batia de chapa no portal onde os dous reverendos estavam altercando.

Porém, meio descoroçoado, o dominicano logo abaixou os olhos: nem o minimo vulto se enxergava no horisonte; e neste abaixar de olhos viu o cégo, que estava ainda assentado sobre o fuste da columna.

Para escapar talvez ás reflexões do seu companheiro, o reverendo bradou ao velho:

“Oh lá, mestre Affonso Domingues, bem aproveitaes o soalheiro! Não vos quero eu mal por isso; que um bom sol de inverno vale, na idade grave, mais que todos os remedios de longa vida, que em seus alforges trazem por ahi os physicos.”

Dizendo e fazendo, o reverendo desceu os degraus do portal, e encaminhou-se para o cégo.

“Quem é que me fala?—­perguntou este, alçando a cabeça.

“Fr. Lourenço Lamprêa, vosso amigo e servidor, honrado mestre Affonso. Tão esquecida anda já minha voz em vossas orelhas, que me não conheceis pela toada?”

“Perdoae-me, mui devoto padre prior:—­atalhou o velho, tenteando com os pés o chão para erguer-se, no momento em que Fr. Lourenço Lamprêa chegava juncto delle seguido do