ponteaguda que se lhe estendia como um cone de neve tombado sobre o peitilho da tunica de precioso tiraz. Abdu-r-rahman, o illustre kalifa dos mussulmanos do occidente, jazia ahi e falava com outro velho, que, em pé defronte delle, o escutava attentamente; mas a sua voz saia tão fraca e lenta, que, apesar do silencio que reinava no aposento, só na curta distancia a que estava o outro velho se poderiam perceber as palavras do kalifa.
O seu interlocutor é uma personagem que o leitor conhecerá apenas reparar no modo por que está trajado. A sua vestidura é uma aljarabia de burel cingida de uma corda de esparto. Ha muitos annos que nisto cifrou todos os commodos que acceita á civilisação. Está descalço, e a grenha hirsuta e já grisalha cahe-lhe sobre os hombros em madeixas revoltas e emmaranhadas. A sua tez não é pallida, os seus olhos não perderam o brilho, como a tez e como os olhos de Abdu-r-rahman. Naquella, coriacea e crestada, domina a côr mixta de verdenegro e amarello do ventre de um crocodilo; nestes, cada vez que os volve, fulgura a centelha de paixões ardentes, que lhe sussurram dentro d’alma como a lava prestes a jorrar do volcão que ainda parece dormir. É Al-muulin, o sancto fakih, que vimos salvar, onze