e arriscada que a propria rua-nova, a mais opulenta e formosa da capital. O que, porém, havia ahi desacostumado e estranho era o completo silencio e a escuridão profunda em que jazia sepultado o paço d’apar S. Martinho, onde então residia elrei D. Fernando, ao mesmo tempo que pelos becos e encruzilhadas soava um tropear de passadas, um sussurro de vozes vagas, que indicavam terem sido agitadas as ondas populares pelo vento de Deus, e que ainda esse mar revolto não tinha inteiramente cahido na calma e somnolencia que vem após a procella.
E assim era, com effeito, como o leitor poderá averiguar por seus proprios olhos e ouvidos, se, manso, manso e disfarçado, quizer entrar comnosco na mui affamada e antiga taberna do velho Folco Taca, que nos fica bem perto, logo ao sair da sé, na rua que sobe para os paços da alcaçova, sete ou oito portas acima dos paços do concelho.
A taberna de micer Folco Taca, genovez, que viera a Portugal ainda impubere, como pagem d’armas do famoso almirante Lançarote Peçanha, e que havia annos abandonára o serviço maritimo para se dar á mercancia, era a mais celebre entre todas as de Lisboa, não só pelo luxo do seu adereço, e bondade