separavam, retrocediam, vacillavam, ficavam immoveis, agglomeravam-se para se desfazer, desfaziam-se para se agglomerar de novo, sem vontade e sem constrangimento, sem motivo e sem objecto, vulto inerte, movido ao acaso, como as vagas do mar, tempestuoso e irreflectido como ellas. Feroz na sua colera razoada, ferocissimo no seu rir insensato, o vulgo passava, rei de um dia. Esse ruído, essa vertigem que o agitava era o seu baile, a sua festa de triumpho: e as estrellas de serena noite de agosto, semelhantes a lampadas pendentes de abobada profunda, alumiavam o saráu popular, as salas do seu folguedo, a praça e a encruzilhada. Era a um tempo truanesco e terrivel.
Na taberna de micer Folco (onde deixámos as personagens principaes desta historia, para inserir, talvez fóra de logar, o prologo ou introducção a ella) as acclamaçôes freneticas dos populares tinham tornado indubitavel que o propoedor para o ajunctamento do dia seguinte devia ser o mui avisado e sages mestre Fernão Vasques. Fr. Roy era de todos os circumstantes o que mais parecia ter a peito esta escolha, e o petintal Ayras Gil ajudava-o poderosamente com o ruido dos amplos pulmões dos galeotes d’Alfama, contrabidos como em voga