cujos olhos centelhantes, cujos labios esbranquiçados revelavam mais odio que terror, lançou-lhe um olhar de desprezo, e em tom de mofa respondeu:
“Sim, senhor rei, na falta de vossos leaes conselheiros posso eu, triste mulher, dar-vos um bom conselho. Acordae vossos pagens, que vão pregar um poste à porta destes paços, e mandae-me amarrar a elle para que o vosso bom povo de Lisboa possa despedaçar-me tranquillamente ámanhan sem profanar os vossos aposentos reaes. Será mais uma grande mercê que lhe fareis em recompensa do seu amor á vossa pessoa, da sua obediencia aos vossos mandados.”
“Leonor, Leonor, não me fales assim, que me matas!—gritou D. Fernando, deitando-se aos pés de D. Leonor e abraçando-a pelos joelhos, com um chôro convulso.—Que te fiz eu para me tractares tão cruelmente?”
“D. Fernando, lembra-te bem do que te vou dizer! O povo ou se rege com a espada do cavalleiro, ou elle vem collocar a ascuma do peão sobre o throno real. Quem não sabe brandir o ferro, cede; deixa-o reinar.”
“Tens razão, Leonor!—disse D. Fernando, enxugando as lagrymas e alçando a fronte nobre e formosa, onde se pintava a indignação. —