o Christo, possuido do insensato orgulho da sciencia, esse não sabe a dolorosa oração do que pede a Deus o crer; ignora quanto fel encerra a interrupção contínua de cada phrase, de cada palavra daquelle tormentoso orar; ignora o que é atirar-se aos pés da cruz por um impulso quasi phrenetico do coração, sentir a voz gelida, pesada, cruel do entendimento dizer-lhe tranquillamente—quem sabe!”—e cahir desanimado no lethargo da duvida, d’onde muitas vezes bem tarde se alevanta o espirito, opprimido e quebrado, porque nelle pelejaram horas largas o instincto religioso e o demonio implacavel a que chamam sciencia.
A sociedade é bem injusta quando ás faces do desgraçado, que assim lucta comsigo mesmo, sacode o lodo da injuria, dizendo-lhe: —hypocrita!—porque escondeu aos que o rodeiam, não as certezas, que não as tem, mas as duvidas terriveis da intelligencia, e lhes revelou só as inspirações, os desejos, as saudades do coração! —Hypocrita?! Tanto como o que, havendo-se transviado da estrada e cahido em fojo profundo, dorido, coberto de pisaduras e feridas, e ensanguentando as mãos e o rosto nas urzes do despenhadeiro, lidasse por saír delle e voltar ao caminho suave e plano, e bradasse aos que visse ao longe:—“não