Abrem-se ante nós os caminhos do mundo como uma conquista. Gloria d’artistas, poderio, opulencia, acções generosas e grandes, amor sem termo, amizade sem perfidias, vida multiplicada indefinidamente pela infinidade de affectos; que ha, emfim, que não sonhemos nessa epocha de fervente loucura? A innocencia morreu, a poesia intima e crente desbaratou-se, o sentimento religioso esmoreceu; mas ficam os deleites dos sentidos, que nos embriagam; os applausos das multidões aos nossos hymnos descorados, que ellas ainda julgam energicos e brilhantes; applausos que nos desvairam: fica-nos uma philosophia orgulhosa e insensata, que se crê profunda, uma sciencia superficial, que se crê completa, pela qual dormimos tranquillos sobre a negação de todas as idéas mysticas, e de todas as lembranças de Deus.
Desta idade em diante é que chega o desfazer das illusões, até das illusões do orgulho. A poesia suave e pura da infancia e da puberdade passou: passa também o iris das paixões férvidas, das ambições insaciaveis, da crença na propria energia. Começa então o pardo crepusculo deste scepticismo, que, semelhante a herpes lentos, vae lavrando por todas as nossas opiniões e affectos, e os prostra e subjuga. Desde essa epocha a vida tem largas horas de