egoismo, e convertia-se pouco a pouco na de um pensamento moral.

E o padre prior calado!—­Calado enfiava as botas; envergava o gabinardo; cobria-se com o capote; punha o amplo sombreiro; enchia um copinho do excellente cordial que a boa da ama lhe havia posto diante; virava-o d’um golpe; fazia uma visagem fechando os olhos com força e estendendo os beiços; dava um estalído com a lingua no céu da bôca; exprimia o intimo conforto que n’elle gerára o ethereo licor com um brrahhh prolongado; estendia a pequena taça, cheia de novo, ao sacristão, que, mestre nos estylos de cortezia, se curvava formando com o corpo um angulo obtuso de noventa e cinco graus, despresadas as fracções, e arqueando o braço para levar o copo á bôca sequiosa, como se curva e arqueia um peralvilho de guedelhas sansimonianas e miolos de agua chilra, ao conduzir em sala de baile a deusa dos seus affectos de vinte e quatro horas ao meio do turbilhão doudo e (perdoe-se-nos a blasphemia) um tanto parvo das valsas e contradanças.

Depois duas palavras magicas saíam da bôca do reverendo pastor:—­“Até logo!”—­O seu effeito era instantaneo: o sacristão, pegando n’uma lanterna, com as chaves da igreja na mão