por ella. Nas noites dos domingos, em que havia dança e viola na casa da brincadeira, [1]a tia Jeronyma, que era capaz de espreitar este mundo e o outro, mirando da sua rotula o que se passava á entrada da rustica sala do baile, pouco distante do presbyterio, notava que, apenas a Bernardina apparecia, os rapazes entravam após ella com muita mais furia e pressa do que pela manhan haviam corrido para a igreja ao ultimo toque da missa do dia. Antes d’isso já a boa da velha tinha reparado no modo por que elles se encostavam aos cajados para lados oppostos, em frente uns dos outros, nos motejos do cantar ao desafio, no pôr dos barretes á banda, nos olhares que mutuamente se lançavam, no pegarem em seixos e atirarem-nos a grande distancia a modo de competencia, sem dizerem palavra, como se cada um quizesse mostrar aos seus rivaes a robustez do proprio braço. D’isto tudo tirava a tia Jeronyma agouro de muita pancadaria,—“por amor daquella delambida—dizia a ama do prior em suas caridosas murmurações—que
- ↑ Assim se denominava ainda ha poucos annos uma casa, na proximidade da cada uma das aldeias vizinhas de Lisboa, emprestada por algum ricaço ou alugada, em que se ajunctava nas noites dos domingos para brincar (dançar) a mocidade aldeian.