“Mariola!—rosnou colerico o moleiro por entre os dentes cerrados, ao chegar ao apertão e agarrando de subito as orelhas de Gabriel, que, com uma cara onde assomava o chôro, encolhia a cabeça entre os hombros, mal comparado, como um caracol quando lhe puxam os tentaculos. Não tanto pela voz, como pelo contacto das mãos, assaz conhecidas daquellas pobres orelhas, Gabriel sentíra o patrão. Era, todavia, já tarde.
“Mariola!”—repetiu Bartholomeu com o mesmo grito mal sopeado de colera. E ouviu-se o tinir duvidoso de uma fivela acompanhado de um som baço, como quem dissera o do bico de um sapato grosso batendo sobre uma pouca de bombazina estofada de certa porção convexa de carne humana. Gabriel descreveu com o corpo um arco, mas no sentido inverso ao de quem faz cortezia profunda. E começou a soluçar.
“Mariola!”—accrescentou ainda outra vez o moleiro, com aquelle fatal rugido, que significava o seu profundo despeito. Ao dicto seguiu-se rapidamente o feito. Largou as orelhas do rapaz: recuou o braço, cerrou o punho, e desfechou-lhe tal murro no toutiço, que Gabriel foi ao chão.
A principio, uma certa contemplação com a