Este brilhante discurso, até certo ponto, e debaixo de certos aspectos, quasi parlamentar, fez volver o catavento de raiva do moleiro para a oradora, que não era ninguem menos que a tia Jeronyma, a qual abicára ao pé delle na alheta de Perpetua Rosa.

Bartholomeu andava-lhe já a cabeça á roda, e fugia-lhe o lume dos olhos. Largou os gorgomilos da sua estimavel consogra, e começou a menear os braços por tal geito, que faziam lembrar as vélas do moinho da Ventosa. Os olhos saíam-lhe das orbitas, e a escuma dos cantos da bôca: quasi não podia falar. Entretanto Perpetua Rosa, solta do feroz amplexo, exclamava:

“Pouca vergonha! pôr as mãos na cara de uma mulher velha, este gaiato!”

Á palavra gaiato, homens, rapazes, mulheres, que de instante a instante augmentavam a roda, ninguem se pôde conter, pelo contraste monstruoso entre semelhante epitheto e o vulto de capitão hollandez, rhomboidal, vermelho, rugoso, quadrangular, irritado do moleiro. Foi uma cachinnada, um palmear, um ah ah ah ... ih ih ih ... um assobiar de garotos, que fazia tremer as carnes. Debalde Bartholomeu tentava fazer ouvir as suas explicações: o estrepito opposicionista embaraçava a atrapalhada