chamados letras não tem um valor constante e determinado, e por isso não podem corresponder rigorosamente a um som.
A Inglaterra ha visto nascer no seu gremio grandes poetas. Shakspeare e Byron bastariam para lhe dar uma celebridade immensa. Mas a sua poesia reside toda no pensamento, na essencia da arte. As fórmas externas são rudes, barbaras, ou fluctuantes. Shakspeare e Byron foram dous selvagens, um porque estava além da civilisação, outro porque estava áquem della; mas foram talvez as duas almas mais sublimemente poeticas da Europa. Porque, pois, não souberam ajunctar a melodia material ás harmonias intimas das suas ideas? Foi porque não podiam converter em palavras humanas o intoleravel grasnido dos seus compatriotas.
Uma cousa que sempre me acontece em ouvindo falar um inglez é notar as mysteriosas analogias que ha constantemente entre a lingua de qualquer povo e os seus habitos de moralidade. Considerae por exemplo a lingua alleman: é um idioma perfeitamente accentuado; os vocabulos escriptos correspondem rigorosamente aos falados: não ha ahi luxo inutil de letras: todas se proferem; todas representam um som ou uma articulação. Os caractéres do alphabeto nunca serviram para enganar o estrangeiro.