I


Houve tempo em que a sé abandonada de Coimbra era formosa; houve tempo em que essas pedras, ora tisnadas pelos annos, eram ainda pallidas, como as margens areentas do Mondego [1]. Então o luar, batendo nos lanços dos seus muros, dava um reflexo de luz suavissima, mais rica de saudade que os proprios raios daquelle planeta guardador dos segredos de tantas almas, que crêem existir nelle, e só nelle, uma intelligencia que as perceba.

  1. A sé velha de Coimbra é no todo, ou na maxima parte uma edificação dos fins do seculo duodecimo; mas acceitámos aqui a tradição que lhe attribue uma remotissima antiguidade.