os cônjuges acabam invariavelmente por se enfararem um do outro, não pelo uso que fazem do seu amor, mas pelo abuso mútuo da convivência e da ternura.
Se tens um prato predileto, que se dá bem com o teu paladar e com o teu estômago, e o qual não podes ver sem sentires a boca lubrificada pelo apetite, não abuses desse estimável prato, para que ele se não inutilize para o teu desejo, e para que possas continuar a saboreá-lo com o mesmo gosto; e principalmente não comas dele sem boa vontade.
A pessoa amada ganha sempre valor e novo prestígio aos olhos do amante, quando dele se afasta por algum tempo. É nessa reforçadora ausência que ela é mais desejada e querida. Dois amantes, inopinadamente arrancados dos braços um do outro e desunidos por um pequeno espaço de tempo, continuarão a amar-se e a cobiçar-se com a mesma primitiva intensidade de antes da posse; enquanto, deixados tranqüilamente juntos, na mesma casa, na mesma mesa, na mesma cama, no fim de alguns meses já nenhum dos dois enxergará no companheiro os elementos de sedução que os inodou sacramentalmente, e cada um há