haveria de trair-te, fatalmente, durante os resguardos da prenhez e do parto, porque a consciência lhe descobriria absolvição para tal delito nas supostas necessidades do seu organismo de homem e na tua acidental inutilidade de mulher. Ser-te-ia infiel, convencido de que com isso não cometeria baixeza, nem maldade, porque havia de resgatar a sua culpa junto à tua cama de doente, à força de constante dedicação, à força de desvelos de enfermeiro e pequeninos cuidados de bom amigo. Ao passo que, por mim arrancado barbaramente dos teus braços e repelido para longe, hão de a ausência e a saudade envolver-te, à proporção que os dias se passarem, num prestigioso véu de poesia e desgraça; hão de dar-te irresistível e fascinante auréola de vítima resignada, a quem seria baixa perfídia enganar traiçoeiramente.

A tua ausência será pois a garantia do seu amor e da sua fidelidade. Ele terá medo de pecar, porque já saberá de antemão que a sua consciência lhe não perdoará semelhante injustiça. Aquilo mesmo que aqui, ao teu lado, seria por ele admitido como fatal conseqüência