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— Ora! disse um. Somos tão somente nove, mas assim mesmo havemos de dar o que fazer.

— A minha birra é com o ladrão desse peixeiro desprezível, o desavergonhado Tunda-Cumbe, que traz galões dourados nas mangas, quando devia trazer algemas.

— Pensa você então em se pegar com o Tunda-Cumbe que, além de não ser peco, valha a verdade, traz consigo tanto cabra matador, e tanto negro feio mandingueiro?

Lourenço sorriu em ar de mofa e impaciente.

— E por que não me hei de pegar com ele, Manoel Félix. Eu só sou capaz de lhe dar com a bainha da minha faca nas ventas quanto mais se vocês lhe fizeram uma perna. O marinheiro bem me conhece, e tem-me ronha. Em um samba que houve o ano passado, em casa do defunto Vitorino, o Tunda-Cumbe bem viu o pau da minha canoa. Há pouco tempo mesmo ele sentiu no braço o dente da minha faca; se as folhas dos paus não estivessem tão embrenhadas, havia de sentir o gosto dela, não no braço, mas no coração, que foi para aí que eu a atirei. Eis aí. Vocês bem sabem a cantiga que eu canto:

Não tenho medo de homem
Nem do ronco que ele tem
O besouro também ronca
Vai se ver, não é ninguém.