Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/112

Quando os presos passaram pela frente do tablado a figura que representava Goiana fez sinal que parasse o troço, e com ênfase dirigiu "em romance curioso, uma alocução a Jerônimo Paes, que exaltou como benemérito do povo e da realeza". A rua não tinha mais onde se pôr um pé de pessoa. A vila em peso, uns por satisfação, outros por natural curiosidade, assistia ao estrepitoso espetáculo.

Os mercadores mais dinheirosos distribuíam aos soldados peças de ouro e bebidas finas; a plebe atirava insultos e injúrias aos algemados.

Estes nunca haviam demonstrado tanta nobreza no gesto e no porte. Tinham a serenidade de mártires. O silêncio dava-lhes gravidade, e a elevação da face deixava manifesto que os seus espíritos, longe de rastejarem, se sustentavam na altura do seu nome e posição.

A um insulto que lhes dirigiu o taberneiro Joaquim Rodrigues, Cosme Bezerra retorquiu:

— Insulta os nobres que vês presos, marinheiros; mas fica sabendo que se não pudermos algum dia ajustar as nossas contas contigo, ajustá-la-ão com os teus malungos, que para cá vierem, os nossos filhos, os nossos netos, enfim a nossa geração; ódio eterno à tua raça é a primeira herança que ensinaremos e deixaremos aos nossos descendentes.

— Toma lá que te dou, profeta sujo - retorquiu-lhe em ar de zombaria o taberneiro.

E atirou-lhe uma moeda de cobre.