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uma casinha de barro, coberta de palha. Alongando as vistas, descobriu na baixada que ficava do outro lado da eminência, uma como aldeia de índios. Contavam-se talvez de quinze a vinte palhoças. Quase todas estavam fechadas, e somente da que ficava mais próxima da casinha do alto, se levantava aos ares, sem embargo dos pesados pingos d'água que no momento caíam, uma fumacinha azulada, indicando que havia moradores na palhoça.

— Já tenho, graças a Deus - pensou o rapaz - onde passar esta cruel noite de inverno.

E tirou para a casinha, donde lhe chegava aos ouvidos o som levantado pelo alternado bater das mãos do pilão sobre o milho.

Faziam a caçula uma rapariga e uma mulher já de idade. Aquela podia passar por branca, e não era mal parecida: cabelos negros e cacheados emolduravam-lhe o rosto jovial e franco; formas boleadas sem carência de gentileza, acusavam tesouros que se perdiam ocultos ou mal apreciados no ermo.

A outra mulher tinha feição e formas vulgares, que nenhum traço particular tornava distintas, a não ser o olhar suspeitoso e a grossura corpórea: ambas trajavam saia de chita e cabeção de renda. Estavam de pé, na sala posterior da casinha, perto de um banco largo, espécie de porta deitada sobre quatro pés cravados no chão, a qual, pelos indícios, preenchia o ofício de estrado, mesa de jantar e cama de dormir.